segunda-feira, dezembro 24, 2007

a catarse um. ou das efêmeras inspirações.




frio nos campos de trigo
luva de coração

casa dos cinco
prematuridade
tarde

fotocópia do amor
sem technicolor.
hollywoodsman

domingo, novembro 25, 2007

...

Katrin Zeidler

pontaria


equilibrada sobre o pé direito, mais uma vez, a menina desistiu da brincadeira. nunca. atirada de sua mão, a maldita pedra nunca caía no céu. no pequeno espaço, para poucos, desenhado com giz, no final da amarelinha.
Eduardo Baszczyn

quarta-feira, outubro 10, 2007

ode to my family

Marc-Riboud


A mãe roubou quatro mil dinheiros da filha pequena
para pagar as contas da boutique.
A família toda gritou em silêncio. E ninguém disse palavra.
Virou segredo confinado.
No dia seguinte todos tomavam café juntos.
E se riam alegres.
A família estava doente.
E o único parente lúcido tomava antidepressivos.





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quarta-feira, outubro 03, 2007

em laboratório

Kalua K Krynska





do décimo segundo andar
confortável sala de veludo e vidro café da manhã
avistamos as vassouras agitadas
do edifício ao lado.
é domingo.
e
de repente
o amargo do café preto
escurece o laranja do suco de frutas colhidas
no interior do país
tropical.





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quarta-feira, setembro 26, 2007

Sóis

Cindy Sherman


Somos sóis.
E a solidão costura,
com fios plenos de vazio,
os entre nós.


Angela Schnoor


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terça-feira, setembro 11, 2007

sweetheart





por hora eu me contento
em te alfinetar nas encruzilhadas,
as cartas marcadas,
e em jogar granizo
no teu telhado de vidro fosco,
enquanto raspo as pontas dos meus esmaltes
e descasco um abacaxi-rei
para te servir no jantar com ovos.
fritos. dois.



quinta-feira, agosto 23, 2007

descoberta

Sophie Thouvenin



Puberdade. Pela primeira vez ouve, na rua, um elogio masculino.
Sozinha no quarto, ela se despe. Passa e mão pelos cabelos, pelo rosto.
Se detém em cada detalhe e, assim, desvenda seu corpo até os pés. Sons de prazer, contrariedade, espanto, satisfação, mapeiam seus caminhos, orientando a memória.
O tato é seu espelho. Satisfeita, veste a roupa e o casaco. Pega a bengala, chama o cão. Sai.






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sexta-feira, agosto 17, 2007

maria, a moça dos cabelos que sobraram

Dorotka Ewentualnie


por que sempre o último cigarro da carteira?
carta na manga dos valetes furiosos?
Ah, cansa-me ser, assim, tão gratuitamente susto.

o moço correu pela praia, pulou das pedras.
o outro bebeu-me com gelo seco,
ficou em estado de insanidade.
aquele que meteu-me narinas adentro, hoje é abstêmio,
virou funcionário público.
E o único acautelado,
meu primeiro,
passeia feliz pelas ruas com seu conversível novo,
apenas dez anos mais velho que eu.


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domingo, julho 29, 2007

Encruzilhada




algo me aflige e não sei o que é.
Sinto relampejos de minha existência
se não sei o que fazer nem para onde ir.

Vivo a buscar o signo que me presentifique,
que, uma vez enunciado, seja por si.
Estou exausto de ser uma representação,

Tem um bicho dentro de mim que quer
pular para fora de tudo e ser a aurora,

Ah se eu fosse o sol não arderia tanto!




José Inácio Vieira de Melo
"A infância do centauro", Escrituras



sexta-feira, julho 13, 2007

quinta-feira, julho 12, 2007

"que horas serão para lá desta fotografia?"


Cambridge, 2003



esta memória lâmina incansável


um cigarro
outro cigarro vai certamente acalmar-me
que sei eu sobre tempestades do sangues? e de água?
no fundo, só amo o lado escondido das ilhas
amanheço dolorosamente, escrevo aquilo que posso
estou imóvel, a luz atravessa-me como um sismo
hoje, vou correr à velocidade da minha solidão



Al Berto

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terça-feira, julho 10, 2007

segunda-feira, julho 02, 2007

rascunho.no quarto andar

Laura Burlton



se estou feliz? não, não sei o que é isso, meu senhor. meus amigos correm todos. apenas um se senta e me lê uma poesia. fala coisas desconexas e fuma cinco cigarros de uma vez. um para cada sentido seu.
eu tenho um amigo que sente.
e grita. e canta. consome tudo. até o fim. engasga cospe vomita. e começa tudo mais uma vez.
não usa sapatos. tem pés descalços, à mostra.
desenha nos corpos, pinta cores no céu. e enfeita os cabelos das flores da primavera anoitecida. essa pessoa, ela, tem olhos de mares de beira de serra, coração de cumeeira. corre pra pegar a estrela que caiu do ceú... tropeça no sonho de ontem. e abre as grades das palavras esquecidas.
policromia de alma nova, de, há tanto tempo, gasta, colhe os planetas do azul, enquanto cobalto, paira,
indecifravelmente,
pelas paredes do apartamento enfumaçado.


é a pessoa mais bonita que eu vi.




segunda-feira, junho 25, 2007

a contrapartida

Denis Olivier


“não sei de que material seco são feitas
as perdas”


anéis, Bruna Beber






domingo, junho 17, 2007

La moindre des choses, Nicolas Philibert



todas as minhas beiras viriam, sempre, daqueles que não vêm a ser.




sexta-feira, junho 08, 2007

Ian Sanderson



"What did I leave untouched on the doorstep---"


Sylvia Plath







“Se você me perguntar como são as pessoas daqui, eu responderei: como em todo lugar! A
espécie humana é absolutamente uniforme. A maior parte trabalha quase todo o tempo para viver, e o pouco que lhes resta de liberdade amendronta-os de tal modo que procuram todos os meios para se livrarem dela. Ó, destino do homem!”


J. W. Goethe,
em “Os sofrimentos do jovem Werther”




domingo, junho 03, 2007

ana, a palindrômica

(closer)


você não sabe deste nó.


sexta-feira, junho 01, 2007




sua ciência acumulava-se em folhas de papel recortadas de jornais e em rascunhos feitos a mão, metodicamente guardados em pastas empilhadas nas estantes empoeiradas do almoxarifado onde vivia.
quase tudo o que sabia jazia fora de si. guardava consigo, apenas, o sentir das coisas do mundo, sua vida. seu coração.



quarta-feira, maio 16, 2007

Sugar Blues


Lillian Bassman

um corpo em chamas
rolando pela escada
de incêndio do meu prédio
era você
vírgula
meu bem
vírgula
era você
interrogação

eu avisei para não brincar
de molhar meus barcos
de papel

eu avisei que não se pode viver
como se faltassem
poucos dias para o carnaval

você indo embora com o foco da coqueluche
e aliviando a vizinhança
você subindo aos céus com os passarinhos mortos
por crianças más
com estilingue

era você se desfazendo
na doce baforada
da janela aberta
numa manhã de calor

era você em pó
em papel picado
no tapete do asfalto
na roupa branca dos médicos
e no antigo toldo do açougue
do andar de baixo

agora eu vou rezar pela sua alma
por um emprego novo
e por um vício a menos
enquanto passeio pela cidade
num ônibus circular
numa quarta-feira de cinzas.



Bruna Beber

terça-feira, maio 08, 2007

porque sonhei com Al Berto naquela tarde no front.

já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o remorso

um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas

ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo

Al Berto
de «Trabalhos do Olhar» 1976/82: Sete dos Ofícios, 1980


quinta-feira, abril 26, 2007

Love Letters, Charles Trevor Garland


casais normais

buscam consumar

uma simbiose


na parte que me cabe

busco ao teu lado

uma outra solidão



Pierre Masato
http://maleficobar.blogspot.com/


sexta-feira, abril 20, 2007

página de autobiografia explícita

Ecstasy, Maxfield Parrish


nos supermercados do mundo
liquidei - me dono de tudo
sem saudades do que fui
hoje não mais me iludo
com máscaras de demiurgo
ou qualquer papel de fundo
assumo o desejo bruto
sentimento irresolúvel e impuro
fruto do mais direto prelúdio
a um espírito sem contramuros



[do livro Simulações] Sandro Ornellas

domingo, abril 15, 2007

encore

Mada Primavesi, Gustav Klimt



não fico mais.
as ruas estão cansadas dos barulhos das castanholas.
tacos de saltos,
tudo é rouco.

sarjetas velhas me pedem a última dose.
eu canto baixo
e dou um tiro.

saúdo os que se recolhem antes.
te prego cinco vezes na mesma cruz
fumo os filtros dos amores teus
e tinjo a casa do vermelho que sobraste.

eu também temo.



sábado, abril 07, 2007

Death and Life (detalhe), Gustav Klimt


nada fala
tira de papel
lápis sem ponta para dizer de ti.

não quero mais saber de horas
instante fechado no colo da moça branca.

e já não é bela.
tem vinte e nove
filhos postiços dentes de mentira clareada.
cola os pedaços da cara quebrada
em meio aos cetins das festas que não foram.
entendes, agora, por que me esvaio?

me nivelo na parede rouca
da aspereza dos encantos teus.
ah, deus da boca silente,
montador de rimas das palavras minhas.

uma unha quebrada
na balada da noite meia. a vida
cala e consente no meio-fio.
navalha de prata. velha.

e tudo cheira a mofo aqui.

é como se me roubasses o coração.
e os dedos.
escondo as balas para que a criança não as veja.
e não me leve também os meus cabelos.



terça-feira, abril 03, 2007

Starry Night, Vincent van Gogh


"Je ne suis rien.
Je ne serai jamais rien.
Je ne peux vouloir être rien.
À part ça, je porte en moi tous les rêves du monde."



Bureau de Tabac - Fernando Pessoa




quinta-feira, março 29, 2007

Bonjour Tristesse, Martin Eder



na rasgadura do peito exposto
você foi mais um pouco...



terça-feira, março 27, 2007

Jean loup Sieff



“...Letra maiúscula também sangra...”


Ednei Pereira Rodrigues


sábado, março 24, 2007




Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo...


Álvares de Azevedo, em “A Lagartixa”





sábado, março 17, 2007

Reinhard Simon



a transitoriedade das coisas táteis.


teu não-falar.
vasinho partido que eu colei quieta.
no vão entre a cômoda e a escavadeira.





quinta-feira, março 08, 2007

Durwood Zedd



o moço dos pés descalços
era o menino com sandálias de couro.
dedinhos sujos.

tinha os cabelos em caracóis
e mãozinhas pequeninas.
mamava mamadeira.

usava um colar de sementes que arrebentou
e uma camisa com o desenho de um cocar.
tomava tragos largos
fumava cigarros baratos
tinha quatro mulheres de uma vez


e eu o amei por seiscentos e sessenta e seis dias.


o número da besta.
eu.





terça-feira, março 06, 2007

Casa das Rosas. Rascunho número dois. Tema: A máquina. De escrever.

José Paulo Andrade,
www.pbase.com/jandrade


e mesmo que passado o tempo
das folhas velhas das saudades findas,

eu grito, ainda:
quero de volta
minha Olivetti
1977!

eu preciso rasgar meu coração.




sábado, março 03, 2007

mais uma vez. as palavras da gaveta. do fundo. porque algumas coisas se repetem. sempre.

Études pour - Les trois singes, Francine Van hove


Medo

eu tenho um medo. guardado na gaveta de baixo, bem no fundo, com corrente e cadeado. eu tenho um medo trancado. debaixo das revistas velhas. dos cadernos usados. dos livros já lidos. dos papéis amarrotados. eu tenho um medo escondido. pior que de escuro, lugar alto, homem do saco. um medo segredo. o mesmo, desde pequeno. desde a oração cochichada. da febre sob as cobertas. do sinal da cruz no meio da noite. o mesmo desde sempre. um medo que me persegue. me atormenta. me atrapalha. que aparece no canto do quarto. no abrir dos armários. em vulto pelos corredores. em visão pela casa vazia. miragem pela praia deserta. ruído no meio do silêncio. grito durante a madrugada. eu tenho um medo morto. ressucitado. um medo tantas vezes enterrado. mas que sempre volta. que cava a terra ao contrário. para acabar comigo e ser mais uma vez trancado. escondido na gaveta de baixo, com corrente e cadeado. um medo que sempre escapa. foge. eu tenho um medo que sempre espera minha chegada, sorrindo. bem no meio da sala.

Eduardo Baszczyn

quarta-feira, fevereiro 28, 2007



Amor em tons de cachaça,
arrebenta-peitos.

Foste uma pedrada no meu coração.






sexta-feira, fevereiro 23, 2007

sexta-feira, fevereiro 16, 2007


The passion of Dance, Richard Judson Zolan




aqui busco uma letra que não quer. e como
a agonia da palavra muda. mas já não me canso do que sinto velho.


quarta-feira, fevereiro 14, 2007

fragmento para honey-Lú, honey-Zão, honey-Sil, honey-Pipa, honey-Mô. hoje a poesia tirou férias.

Summer of 1909, Frank Weston Benson



Os homens criaram datas para rezar, dançar e até para comer chocolates. Só se esqueceram de que não existem horas para ser feliz. Nem para morrer.


uma merda só hoje. não sei porque o dicionário do meu computador insiste em não aceitar esta palavra. merda. foda-se agora. tá tudo uma merda mesmo. triste sabe?, nada a ver com depressão. apenas triste. a vida tem cada coisa, honey. que custo a entender. e, no fim, não entendo mesmo. nem tomei banho ontem. e, surpresa, ou não: não me importo. estas calças e estes tênis não me deixam sentar confortável. e o palito com o qual prendo os meus cabelos machuca a minha nuca. sonhei que andava só de camisola. camisolinha. mas, acordada, sei: não sou mais criança. uma pena. ser gente grande é das coisas mais doídas que já vi. pior do que quando a mamadeira atrasa. sinto dores nas costas. e um sono que me faria dormir mil anos. se pudesse. e quem pode? só os mortos mesmo têm esta regalia. e tem muito sangue preso por aqui. talvez até demais. sorry pelas palavras duras. sorry, também, por usar palavras não nossas. mas algumas coisas precisam ser ditas em línguas estranhas. para que eu pense que continuam a ser segredos só meus. meus cigarros acabam incrivelmente rápido. ou é meu tempo que anda lento? não sei. mas, que saber?, em meio a tudo isto que desconhecemos já não sei mais o que é secreto e o que pode ser escancarado, gritado aos berros. roucos. porque a voz é fraca. ou, então, porque não sabe falar. hoje: nada na agenda. muito bom. ou não. percebe que não decido nada... meu lugarzinho é mesmo em cima do muro. de onde vejo a vida passar. e ela vai passando passando... e comprar sapatos não ameniza nada. só me faz sentir que tenho pés a menos. sinto preciso de uma ligação. um fio que me segure. mesmo que um fiozinho prata numa embalagem de presente. estou na linha, querida, mas nem mesmo o trem passa para me dizer: hi, dear, quero passar. então eu fico. como, talvez, sempre tenha ficado. mais um cigarro. e um chorinho de criança no fundo. junto às marteladas do pedreiro do vizinho. carros e carros e carros. os sons existem. mas o silêncio é ensurdecedor. não os sons. da vida de fora. mas o silêncio. daqui. das palavras que não vêm nunca. nunca. nunca. nunca mesmo.
então, que fazer?
me calo. nos pés.
te amo.

bisou .

terça-feira, fevereiro 13, 2007


Dying

Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

(Sylvia Plath)






segunda-feira, fevereiro 12, 2007

"você prefere sexo ou Häagen-Dazs?"

Romance Barato, de Celso Cruz, interpretado por Carlos Rahal



terça-feira, fevereiro 06, 2007


Alee in Park Von Schloss Kammer, Klimt




Herr Doktor,
te pago fortunas de quartos de horas a preço de poemas natimortos. Você me poda feito flores baças. Sim, Doktor, eu entendo. Apenas (re)sinto que sangra.




segunda-feira, fevereiro 05, 2007







auri sacra fames





sexta-feira, fevereiro 02, 2007


Mathematical Bridge, Cambridge, UK
Lady Lazarus



I have done it again.
One year in every ten
I manage it-----

A sort of walking miracle, my skin
Bright as a Nazi lampshade,
My right foot

A paperweight,
My face a featureless, fine
Jew linen.

Peel off the napkin
O my enemy.
Do I terrify?-----

Yes, yes Herr Professor
It is I.
Can you deny

The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.

Soon, soon the flesh
The grave cave ate will be
At home on me

And I a smiling woman.
I am only thirty.
And like the cat I have nine times to die.

This is Number Three.
What a trash
To annihilate each decade.

What a million filaments.
The peanut-crunching crowd
Shoves in to see

Them unwrap me hand and foot-----
The big strip tease.
Gentlemen, ladies

These are my hands
My knees.
I may be skin and bone, I may be Japanese,

Nevertheless, I am the same, identical woman.
The first time it happened I was ten.I
t was an accident.

The second time I meant
To last it out and not come back at all.
I rocked shut

As a seashell.
They had to call and call
And pick the worms off me like sticky pearls.

Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call.

It's easy enough to do it in a cell.
It's easy enough to do it and stay put.
It's the theatrical

Comeback in broad day
To the same place, the same face, the same brute
Amused shout:

'A miracle!'
That knocks me out.
There is a charge.

For the eyeing of my scars, there is a charge
For the hearing of my heart-----
It really goes.

And there is a charge, a very large charge
For a word or a touch
Or a bit of blood

Or a piece of my hair or my clothes.
So, so, Herr Doktor.
So, Herr Enemy.

I am your opus,
I am your valuable,
The pure gold baby

That melts to a shriek.
I turn and burn.
Do not think I underestimate your great concern.

Ash, ash--
You poke and stir.
Flesh, bone, there is nothing there-----

A cake of soap,
A wedding ring,
A gold filling.

Herr God, Herr Lucifer
Beware
Beware.

Out of the ash
I rise with my red hair

And I eat men like air.


Sylvia Plath
-

quinta-feira, fevereiro 01, 2007


Maria tinha se cansado de pensar. E de ler sobre o que pensara. Suas teorias, hipóteses, suas especulações sistematizadas, seus pensamentos avaliados, as suposições desenvolvidas, tudo isso a tinha cansado. A teoria das pedras a estava devorando. Toda a ciência acumulada a estava consumindo. Queria mais era passar a mão no telefone. E discar os números da sorte. Ou da falta dela.


quarta-feira, janeiro 31, 2007

Isabelle, Francine Van Hove

Medo

eu tenho um medo. guardado na gaveta de baixo, bem no fundo, com corrente e cadeado. eu tenho um medo trancado. debaixo das revistas velhas. dos cadernos usados. dos livros já lidos. dos papéis amarrotados. eu tenho um medo escondido. pior que de escuro, lugar alto, homem do saco. um medo segredo. o mesmo, desde pequeno. desde a oração cochichada. da febre sob as cobertas. do sinal da cruz no meio da noite. o mesmo desde sempre. um medo que me persegue. me atormenta. me atrapalha. que aparece no canto do quarto. no abrir dos armários. em vulto pelos corredores. em visão pela casa vazia. miragem pela praia deserta. ruído no meio do silêncio. grito durante a madrugada. eu tenho um medo morto. ressucitado. um medo tantas vezes enterrado. mas que sempre volta. que cava a terra ao contrário. para acabar comigo e ser mais uma vez trancado. escondido na gaveta de baixo, com corrente e cadeado. um medo que sempre escapa. foge. eu tenho um medo que sempre espera minha chegada, sorrindo. bem no meio da sala.
Eduardo Baszczyn

domingo, janeiro 21, 2007

Embriaguei-me.

Afternoon Tea, Richard Boyer

lembrança da viagem; o ciclo de Saturno

A viagem do aniversário foi como carregar um livro de história fechado.
Senti-me um neologismo.



quinta-feira, janeiro 18, 2007

Le Musée de Ben, Ben Vautier

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terça-feira, janeiro 16, 2007






eu sou o que você sobra.
moedinhas de tempo.







segunda-feira, janeiro 15, 2007

The Velvet Underground and Nico, 1966





I´ll be your mirror


I´ll be your mirror
Reflect what you are in case you don´t know
I´ll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you are home
When you think the night has seen your mind
That inside you´re twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hand´
Cause I see you
I think it´s hard you don´t know
The beauty you are
But if you don´t, let me be your eye
A hand in the darkness, so you wont be afraid
When you think the night has seen your mind
That inside you´re twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hand
´Cause I see you
I´ll be your mirror
(Reflect what you are)




segunda-feira





Dê-me, então, tuas botas manchadas de sal.







um cigarro sozinho
na tarde chuvosa acabada.
O céu preto rosado
chão molhado.
E um pingo que tardiamente
cai
único
do telhado chovido de ontem.



sábado, janeiro 13, 2007

essa é para a Comadre

Street Tango Dancer's Legs in San Telmo, Michael Taylor



E eu passei tão rápido que mal tinha percebido que você já volta já. A sensação era de que você ficaria eternamente mais do que eu aí. Provavelmente porque senti que você, nem um tantinho histerus, aproveitava tudo muito mais do que eu sequer poderia pensar em fazer. Olha, nem preciso te dizer, já descobriu meu segredo, às vezes aberto-escancarado na minha roupa da moda, nas minhas caras e bocas, naquilo que paro, mas digo, agora, e é certo: não é tarde: a viagem foi me-mo-rá-vel. E porque quase caímos no fosso do elevador, andamos tal qual condenadas, tomamos sol como se fosse praia, não entendemos nada do que as pessoas falaram, conhecemos todas as espécies latinas de mosquitos, demos o real valor ao arroz, ao feijão e ao ovo frito, comemos cachorro-quente na ceia do Réveillon, dançamos até cansar, vimos coisas lindas, outras nem tanto, você me ensinou a subir num beliche, eu te mostrei que posso ser ainda mais mal humorada do que a espécie humana poderia esperar de alguém e você não me mandou ir embora, tivemos um começo mais do que emocionante nas redondezas do mercado municipal, conheci um primo do Compadre, até sonhei com ele, conheci outro primo do Compadre, que me fez rir como pouca gente sabe, e afinal, nos divertimos a valer. Eu, enfim,
me arrebatei.
Uma flor de prata pra você. Aproveita o finzinho e me escreve depois.

Saudades.
bisou

apenas sinta

sexta-feira, janeiro 12, 2007

...
"Naqueles tempos ele era vítima de um cirugião-dentista que, de repente, do outro lado da sala do café, da outra extremidade do bonde, da calçada oposta, lançava intempestivamente o seu vozeirão:

_ Como vai a poesia?

Todas as cabeças que se achavam de permeio voltavam-se então para o Poeta. O Poeta, nu, desmascarado, em meio à multidão!"


Mário Quintana
...

segunda-feira, janeiro 08, 2007




Meu país é feito de gentilezas.

Mas
eu sou o gato.

Pulo o muro
e jogo tudo
pelos ares.

A viagem é o viajante.




 
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