domingo, agosto 31, 2008



Rita




o amor, às vezes, pode ser mesmo um sofá?
cholchãozinho velho estendido no chão
sala emprestada
corrida de carrinhos
tela de vidro
louça suja debaixo da mesa
esmaltes arranhados
dentes porcelana-da-china.
uma coisa
que alguém
mete no bolso
calça jeans surrada _
um número a mais
e a bailarina rodo
piando tonta.
era esse o palco da estação passada?
o pano de boca
velho
gasto
descorado do desejo em prosa
o texto não se justifica.

quando nunca se espera
o amor se transmutou em pó
comprado em pacotinhos selados
matematizado por contas de mais_
a estimativa de vida-útil,
sendo consistentemente
adulterado com sal de cozinha e
fermento para bolos de parabéns-a-você.
são 10 miligramas de sentimento amoroso.

eu fumo um minuto dessa fala amontoada
e já engasgo na boca do primeiro verso.
_ é que são tempos de guerras frias,
armazenamento de especiarias importadas.

ok, então,
eu costuro uma estrela no peito.

o sonho mofado
veio dormido da manhã de ontem.
engoli com café requentado
mirando os carrinhos correndo na tela.
a pole position do amor a granel.

e o amargo
fica
na ponta da língua
le chapms de filles.
gelo em forminhas de coração
derretendo no banho-maria
descuidosamente
deixado
a meio fogo
lento do fim.
 
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